sábado, 30 de maio de 2009

O tema PECADO no romance A LETRA ESCARLATE(Nathaniel Hawthorne)

THE SCARLET LETTER é uma história de adultério,mas é o preconceito que cerca esse fato que movimenta a trama.Hester Pryne é a personagem principal. Presa por cometer adultério, Hester é obrigada a carregar,bordada no vestido,a letra A. Do "pecado" de Hester, nasce Pérola. Hester sofre todo tipo de humilhação e preconceito dos habitantes de Salem,cidade provinciana da Nova Inglaterra onde a moral e os bons costumes estavam acima de tudo.

O pecado ou a maneira como é representado é um tema que compõe a narrativa do começo ao fim.O narrador onisciente não dá ao leitor a definição do que é pecado.O leitor é que vai tirando suas próprias conclusões ao longo da narrativa,porém há a intenção por parte do narrador em fazer o leitor acreditar naquilo que narra.

Já no capítulo introdutório intitulado"O EDIFÌCIO DA ALFÂNDEGA",o leitor,pela primeira vez tem contato com algo que ele supõe(pois o escritor não diz) ser um objeto que está ligado de alguma forma a algo condenável,pois o escritor diz sentir-se mal ao tocar o objeto."Pareceu-me então,-o leitor pode sorrir,mas não duvide de minha palavra,-pareceu-me que experimentei uma sensação não inteiramente,mas quase inteiramente,física de calor em brasa.Estremeci,e sem dar por isso deixei-o cair no chão"
Ao entrar no segundo capítulo,em que Hester sai da prisão,o leitor já terá se despedido do escritor e passa a ver os fatos por meio de um narrador em terceira pessoa e então é que o leitor fica sabendo a que se destinava o tecido vemelho dordado com a letra "A" cuidadosamente bordada pela própria usuária que a confeccionara com tanto gosto e apuro que o leitor tem a impressão de que ela faz questão de exibir o símbolo do seu pecado,como se a condenação a que a submeteram não a afligissem o espírito,pois o que a perturbava não era o desprezo das pessoas,mas sim a consciência que ela tinha de seu pecado."Com um sorriso de altivez e um fulgor nos olhos de quem não se sentia envergonhada,contemplou em volta a multidão da cidade e dos arredores.Sobre o peito de seu vestido,apareceu,de fino tecido vermelho,cercada de engenhoso bordado e de fantasiosos floreados de fios de ouro,a letra A.(capII,p.56.)
Pérola era a personificação do pecado de Hester e ela tinha tanta convicção disso que enxergava na filha algo de anormal,como se a menina possuísse dons sobrenaturais e fosse diferente das outras crianças por ter nascido de um pecado,do seu pecado e por esse motivo Hester temia pelo futuro de Pérola a quem dedicava todo seu amor."Contudo tais pensamentos determinavam em Hester Prynne,mais do que a esperança,apreensão.Sabia que seu ato fora mal;não podia,pois,esperar que o resultado do mesmo fosse bom.Dia após dia,observava,receosa,o natural expansivo da criança,temendo sempre descortinar algum desordenado e obscuro sintoma,que correspondesse à culpabilidade a que devia o ser"(Cap.VI,P.83)
Hester não era uma heroína qualquer.Sua altivez e dignidade diante da condenação a que fora imposta,faz com que o leitor a veja sob uma aura superior e a letra "A" vai crescendo numa dimensão tão grande que parece ser uma redoma que protege seu coração das maldades dos habitantes de Salem.Ela não precisa deles e nem da letra "A" para saber que pecou.O pecado não habita somente no coração de Hester.Ele está em toda parte para onde quer que ela olhe.O pecado é a covardia de Dismmedale que sofre calado sem no entanto ter coragem de confessar seu erro.Está na hipocrisia dos habitantes de Salem,os quais condenam Hester e no entanto usufruem dos serviços de bordadeira dela porque lhes é útil;está no ódio mortal de Chillingworth que tenta a todo custo penetrar na alma de Dismmendale para destruí-lo.
À medida que a narrativa vai se desenrolando,o narrador vai levantando questionamentos a respeito do que é realmente pecado.Tenta conseguir com seus fortes argumentos,o apoio do leitor para absolver Hester e consegue,pois quanto mais o leitor obtem informações a respeito de Hester,mais ele a absolve.E a absolvição é completa quando aparece em cena aquela figura estranha e monstruosa de Chillingworth,o marido de Hester.O leitor compreende porque Hester foi capaz de traí-lo.Chillingworth não inspira nenhuma simpatia,mesmo antes do leitor saber de seu papel na história.As descrições que o narrador faz de Chillingworth causa antipatia e repugnância."Era pequeno de estatura,as rugas sulcavam-lhe o rosto;mesmo assim,dificilmente se poderia julgar que era idoso...Hester Prynne reparou que um dos ombros dele era mais elevado que o outro.Novamente,logo que avistou aquele rosto franzino,e a leve deformidade de sua estatura,apertou a criança ao seio com tanta força que o pobre nenê soltou outro grito de dor"(Cap.III,P.61)
Ao encerrar a análise sobre THE SCARLET LETTER percebo que a letra"A" teve um destaque especial no romance.Eu diria que até que superou o papel de Hester,tal a humanização que foi emprestada à letra.Se a intenção do narrador era despertar no leitor a atenção para a significação do pecado,penso que ele conseguiu.As mudanças que o significado da letra "A" sofreu durante o curso da história faz com que o leitor pense que os habitantes de Salem,aqueles que condenaram Hester,enxerguem na letra os seus próprios pecados e a letra serviu como espelho de suas almas.Hester foi apenas instrumento condutor.
Aletra "A" cumpriu sua missão.

APELO(releitura da crônica de Fernando Sabino))

Querido,hoje faz um mês que você foi embora.Não senti de imediato sua falta.Bom ter a cama enorme só para mim,lavar a roupa de uma só vez sem usar a máquina várias vezes.

Com o passar dos dias comecei a sentir falta das pequenas coisas que você fazia e que eu só agora me dou conta.Sinto falta dos apelidos carinhosos,da sua voz grave me pedindo a toalha de banho que você sempre esquecia.O cheiro das suas roupas não me faz mais companhia e a solidão tomou seu lugar.
Eu reclamava do seu vício do cigarro,não gostava do cheiro e agora fico torcendo para que o vizinho do apartamento fume só para eu sentir sua presença.
À noite,na hora do banho uso qualquer sabonete sem olhar marca ou fragrância.Tomei birra daquela camisola que você gostava.Estou a ponto de cortá-la em pedacinhos como você fez com minha vida quando partiu.
Por favor,volte.Para inundar a casa com odor de cigarro,trocar o canal da TV quando estou assistindo meu programa favorito.Aceito de volta todos os teus defeitos,menos tua ausência que a cada dia se torna mais insuportável.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Pride and Prejudice "Mr. Collins"

ORGULHO E PRECONCEITO é uma história narrada em terceira pessoa.Jane Austen relata os fatos e os acontecimentos do séc.XVIII da sociedade inglesa.Avida na sociedade é exposta com seu luxo,sua arrogância e seu romantismo burguês.Várias personagens compõem o romance,enriquecendo-o ao longo da narrativa,pois cada uma possui uma característica própria.Entre essas personagens está Mr.Collins e é ele que será analisado aqui.
Mr.Collins é o protótipo do chato,porém seria injustiça atribuir-lhe apenas esse adjetivo.Ele cria situações mais engraçadas que constrangedoras,dando um toque de humor à narrativa.É uma personagem que permanece até o final da narrativa com as mesmas características do início.Ele aparece pela primeira vez no cap.XIII por meio de um diálogo entre Mrs. Bennet e Mr Bennet.Pela conversa dos dois,o leitor já fica sabendo que Mr Collins não é uma personagem qualquer e que irá movimentar a trama.
Vejamos um trecho do diálogo"-Há um mês atrás recebi esta carta...É do meu primo MrCollins,que,quando eu morrer,poderá expulsá-las desta casa,assim que desejar."(cap.XII,p.61)
Collins age de acordo com as circunstâncias,sem remar contra a maré.Ele precisava garantir seu espaço dentro de uma sociedade capitalista e preconceituosa e por isso não se dava ao luxo de ter certos escrúpulos,como por exemplo,não poupar elogios e bajulações aos privilegiados pela riqueza.Era protegido por lady Catherine,senhora rica e poderosa a quem ele idolatrava acima de tudo.As cenas em que ele aparece com Lady Catherine são as mais engraçadas.Durante um jantar com Mr. Bennet e sua família,Collins falou o tempo inteiro de lady Catherine,entediando Mr.Bennet."O primo era tão absurdo quanto ele esperava...Deliciava-se sozinho com o espetáculo,e às vezes atirava um olhar furtivo e malicioso para Elizabeth"(cap.XV,p.66)
Apesar de ser extremamente inconveniente,Mr Collins tinha plena Consciência de seu papel na sociedade e por esse motivo adaptava-se facilmente às situações sem perder tempo com coisas que julgava pequenas.A prova disto foi quando Elizabeth recusou seu pedido de casamento.Ao invés de ficar se lamentando,ele tratou logo de arranjar outra noiva e inclusive admitiu que Elizabeth não seria uma boa esposa para ele."...mas se ela é realmente teimosa e tola não sei se neste caso será uma esposa desejável para um homem na minha situação,que naturalmente procura a felicidade no casamento."(cap.XX,p.105).
O narrador mostra a praticidade de Collins com uma ironia sutil.Ao ser rejeitado por Elizabeth,Mr. Collins logo em seguida "apaixona-se" por Charlotte,melhor amiga de Elizabeth.Há uma pitadinha de ironia quando o narrador fala sobre a saudade que Collins sentirá de sua amada Charlotte."Depois de uma semana passada em declarações de amor e projetos de felicidade,a chegada do sábado veio privar Mr Collins da companhia da sua amada Charlotte".(cap.XXV,p.131).
Collins faz questão de parecer um "gentleman" e no afã de agradar as pessoas,comete as mais desastrosas gafes.É cômica a cena em que ele elogia as primas por achar que foram elas as responsáveis pelo maravilhoso jantar.A mãe das moças fica ofendida."O jantar também foi altamente apreciado,e Mr Collins desejou saber a qual das belas primas deveria atribuir a excelência daqueles jantares.Mrs. Bennet respondeu um tanto asperamente que a família podia perfeitamente pagar uma cozinheira e que suas filhas nada tinham a fazer na cozinha."(cap.XIII,p.65)
Quando Collins começa a falar de lady Catherine,o leitor fica torcendo para que chegue alguém que corte o seu entusiasmo.Ele a bajula tanto que se tem a impressão de que a qalquer momento,o gentil homem se estenderá ao chão para servir de tapete a ela e o que é pior,se sentindo honrado com isso.Durante um passeio pelas propriedades de lady Catherine,Collins,certo de que os visitantes seriam incapazes de perceber as belezas do local,vai mostrando e descrevendo cada detalhe com uma preocupação irritante."Todos os parques têm as suas belezas e suas perspectivas.Elizabeth o achou bonito,embora não visse motivo para os êxtases de Mr.Collins.A enumeração que este fez das janelas da fachada da frente e a sua revelação da soma que tudo aquilo custara a Sir Lewis de Bourghn a impressionaram pouco"(cap.XXIX,p.150)
Mr Collins não se contentava em bajular lady Catherine sozinho,tentava por todos os meios conseguir adeptos para o seu servilismo,sem sucesso porém,porque só ele com sua idolatria cega seria capaz de enxergar alguma qualidade em lady Catherine.Elizabeth faz um comentário a este respeito."Mr.Collins-disse Elizabeth-fala muito bem tanto de lady Catherine como da filha,mas certos detalhes que ele relatou acerca daquela senhora me fazem suspeitar que a gratidão o torna cego e que, apesar de ser sua protetora,ela é uma mulher arrogante e convencida"(cap.XVI,p.81)
Mr. Collins se preocupava tanto com a opinião de lady Catherine que chegava ao absurdo de opinar a respeito das roupas que as moças deveriam usar para visitá-la,como se fosse um "expert" em figurinos."Lady Catherine está longe de exigir de nós a elegância que ela e a filha ostentam.Aconselho-a apenas a pôr o seu vestido mais elegante...Ela gosta de manter as distinções de classe"(cap.XXIX,p.149)
Após tantos exemplos a respeito do caráter de Mr. Collins,julgo que não será necessário me prolongar mais nesta questão.Quem aprecia a boa leitura certamente se deleitará com as trapalhadas de Mr Collins,o chato mais engraçado e divertido de Jane Austen.

Bela Frase

"O que se leva da vida é a vida que se leva" (frase de para-choque de caminhão).